O exercício da competência discricionária pela inteligência artificial: Uma análise jurídica à luz do princípio democrático

Autores

DOI:

https://doi.org/10.48143/rdai.34.filgueirasjr

Palavras-chave:

Inteligência Artificial, Discricionariedade, Democracia, Função Administrativa, Administração Pública

Resumo

O artigo busca demonstrar que é vedada a transferência do exercício da competência discricionária a um sistema regido por inteligência artificial - IA, no seu atual estágio de desenvolvimento, por violação ao princípio democrático. Parte-se da ideia de que os sistemas baseados em IA, por serem autônomos como a inteligência humana, podem apresentar soluções inéditas, por causa da inserção de novos critérios decisionais ao longo da sua execução. Com isso, constata-se que a estrutura dos algoritmos finais do programa não pode ser conhecida previamente, o que não ocorre na automação simples, onde toda a cadeia algorítmica já consta da escritura do programa desde o início. O núcleo incontroverso da discricionariedade é a escolha de uma solução em detrimento de outra(s) também admitida(s) pelo direito. Essa escolha, apesar de delimitada pelo direito, inevitavelmente envolve o plexo ideológico do agente. Se o agente foi eleito para figurar como administrador público, significa que o povo que o escolheu tem o direito subjetivo público de vê-lo – junto de seus comandados – concretizar a ordem jurídica, mas também de vê-lo concretizar as suas ideias nas escolhas discricionárias e não as do seu adversário derrotado ou de uma máquina que não se pode saber qual o critério utilizará.

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Biografia do Autor

Marcus Vinícius Filgueiras Júnior, Centro Universitário Fluminense e Institutos Superiores de Ensino do Censa (Campos dos Goytacazes), Rio de Janeiro

Doutor em Ciências Jurídicas (Universidad Católica Argentina-Arg). Mestre em Direito Público (PUC-SP). Professor do Centro Universitário Fluminense - UNIFLU e dos Institutos Superiores de Ensino do Censa - ICESENSA. marcus_filgueiras@yahoo.it. https://orcid.org/0000-0001-6570-0786

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Publicado

2025-07-01

Como Citar

FILGUEIRAS JÚNIOR, Marcus Vinícius. O exercício da competência discricionária pela inteligência artificial: Uma análise jurídica à luz do princípio democrático. Revista de Direito Administrativo e Infraestrutura | RDAI, São Paulo: Thomson Reuters | Livraria RT, v. 9, n. 34, p. 111–128, 2025. DOI: 10.48143/rdai.34.filgueirasjr. Disponível em: https://rdai.com.br/index.php/rdai/article/view/776. Acesso em: 11 dez. 2025.

Edição

Seção

Direito Administrativo: Teoria Geral | Administrative Law: General Theory